19 de fev. de 2016

“TENTATIVA DE PAZ"


Quem não conhece a História, acha, com certeza, que naqueles idos tempos as crianças e adolescentes já nasciam e cresciam de arma em punho, sem seus pais nunca tomarem providências para que a violência não existisse. Puro engano, tanto de um lado como do outro, houve tentativas da ‘coisa’ não ir ao extremo que foi. Tanto o pai de Zé Saturnino como o de Virgolino, principalmente o último, fez várias e várias tentativas para que a paz reinasse naqueles rincões sertanejos.

José Ferreira e Maria Sulena pais de Lampião

Abaixo, veremos a primeira tentava de José Ferreira, pai de Virgolino, para ‘apaziguar os ânimos”... para fazer com que a violência parasse. Isso, lá pelos idos de 1917. 

Quem nos conta essa parte da História, é nada menos nada mais, que o valoroso em volante João Gomes de Lira, através das páginas do seu belíssimo livro.

“(...) Por não querer barulho, no ano de 1917, para não ver seus filhos em desmantelo, José Ferreira resolveu se retirar do seu lugar, sítio Passagem de Pedras. 

Escombros da casa dos pais de Zé Saturnino

Para isto, falou com o professor Domingos Soriano, para procurar um lugar no distrito de Nazaré para comprar(...) Tendo o Professor apalavrado no lugar Poço do Negro, (distando) três quilômetros para o povoado de Nazaré, um terreno pertencente ao Sr. Antônio Freire. Feito o negócio, José Ferreira vende a sua terra em Passagem de Pedras aos Senhores Venacinho Nogueira e Néo das Barrocas, ambos residiam na ribeira do Riacho de São Domingos. Concluído o negócio, foi feito um acordo: os Ferreira não deveriam ir ao Riacho São Domingos, como também José Saturnino com os Nogueira não deveriam ir a Nazaré. Desse modo, José Ferreira deixou a sua querida morada.

Os Ferreiras chegaram a Nazaré, com o seguinte aspecto: chapéu de couro quebrado na frente e atrás, barbicacho passado no queixo, roupas de mescla, blusa tipo as usadas pelos cangaceiros do Sertão, montados em possantes cavalos galopando com os rifles enganchados aos ombros. Viajavam demonstrando uma verdadeira posição de combate, distante um do outro, tática usada pelos veteranos cangaceiros do Sertão. Tudo isso foi observado pelos nazarenos, principalmente pelo jovem Aureliano Francisco de Souza (Lero Chico), que se encontrava no lugar José dias, próximo a Nazaré, onde presenciou tudo minuciosamente, inclusive viu que, quem viajava na frente, era o Inspetor Manoel Lopes.

Zé Saturnino primeiro inimigo dos Ferreira

Um dia, José Saturnino foi avisado que os Ferreira tinham ido visitar sua tia, Joaninha Ferreira, na Serra Vermelha. Não satisfeito com a desobediência dos inimigos, José Saturnino manda Tibúrcio dos Santos, ‘cabra’ de confiança dele, emboscá-los nas proximidades da casa da tia deles, Joaninha Ferreira. Porém, como os Ferreira não vieram, nada aconteceu naquele dia. José Saturnino, tinha vendido um animal ao Sr. Agripe de Manoela, que mora em Nazaré, e o mesmo achou por bem ir receber o pagamento do animal vendido, em Nazaré. Assim, entre os meses de fevereiro a março de 1918, José Saturnino com o companheiro José Cipriano foram para Nazaré, desobedecendo Saturnino, ao acordo que haviam firmado.

Escombros da casa dos pais de Lampião

Em Nazaré, o Major João Gregório Ferraz Nogueira, notando Virgolino Ferreira num movimento completamente estranho e desusado, pediu a José Saturnino que tivesse muito cuidado. Este agradeceu, porém dizendo que não os temia, que podiam vir da modo que entendessem, pois estava pronto para recebê-los do jeito que quisessem. Adiantou que não estava ali por afronta a ninguém, porque a finalidade de sua presença em Nazaré era a de receber o dinheiro de seu negócio. A tarde, ao regressarem, José Saturnino e seu companheiro José Cipriano foram emboscados por Virgolino e seu primo Domingos Paulo. No dia seguinte, a frente de dezesseis ‘cabras’, José Saturnino cerca e ataca os Ferreiras na casa onde estavam, que era de sua tia Chica Jacoza, em Poço do Negro. Naquele dia, Virgolino enfrentou José Saturnino, com o tio Manoel Lopes e os primos Sebastião, Francisco e Domingos Paulo e o ‘cabra’ Luiz Gameleira. Notava-se naquele dia a ausência dos irmãos de Virgolino, Antônio e Livino Ferreira, por se encontrarem em viagem para Triunfo - PE. Por aqui já se tinha uma noção de quem era Virgolino Ferreira nas armas. Ficou naquele dia, definida a questão entre os Ferreira, José Saturnino e os Nogueiras (...)”.(Transcrito).

Daí para frente, o Sr. José Ferreira, submete-se a outras tentavas... Vendendo seus bens, destruindo aquilo que passou a vida para ‘arrumar’... nas quebradas do Sertão.

Fonte livro "LAMPIÃO - Memórias de um Soldado de Volante", LIRA, João Gomes de. LIRA. FUNDARPE, Recife, Impresso Brasil 1990, pgs 33 à 35.


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