Por: José
Romero Araújo Cardoso
O Nordeste
Brasileiro concentra em seu território percentual bastante significativo
referente ao rebanho caprino em todo Brasil, excedendo noventa por cento,
conforme vem sendo constatado pelos diversos censos agropecuários implementados
pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, sendo que o Estado da
Bahia ocupa lugar destacado nos conjuntos nacional e regional, não obstante as
demais unidades da região apresentarem expressivas estatísticas, as quais
influenciam diretamente na economia e na cultura locais.
A criação de animais domésticos de pequeno porte vem sendo dinamizada de forma
extraordinária, passando a representar rentáveis negócios para poucos que
dispõem de condições satisfatórias para dar ênfase a essa prática pecuária, a
qual há poucos anos estava quase que completamente destinada à população que
dispunha de poucos recursos financeiros.
Bodes e cabras, bem como ovelhas e carneiros, ficaram conhecidos como as vacas
dos pobres, pois geralmente o criatório era encabeçado por pessoas que não
tinham condições de dispor de animais de grande porte, os quais tornaram-se
imemorialmente sinônimos de status no meio rural.
Exemplo da importância auferida pela caprino-ovinocultura na região Nordeste,
observa-se através da ênfase granjeada pela Festa do Bode, realizada anualmente
no mês de julho em Mossoró (Estado do Rio Grande do Norte), na qual a
comercialização de animais, seja de grande ou de pequeno porte, associada às
manifestações culturais surgidas com o contínuo manejo e usufruto dos produtos
obtidos com essa atividade pecuária, exponencializa, ano após ano, recordes em
termos financeiros para muitos expositores, sendo que diversos são oriundos de
distantes localidades espalhadas pela região Nordeste e também de outras partes
do Brasil onde a caprino-ovinocultura vem se destacando consideravelmente.
A festa do Bode realizada em Mossoró despertou a atenção de criadores
importantes, tanto do ponto de vista da lógica econômica e ambiental como
cultural, a exemplo da presença, em diversas vezes, quando do evento realizado
na capital do oeste potiguar de Ariano Suassuna, intelectual brilhante, de
saudosa memória, fundador do Movimento Armorial, o qual em companhia do primo
Manuelito Dantas Vilar Filho expuseram exemplares do excelente plantel criado e
melhorado geneticamente na Fazenda Carnaúba.
A festa do Bode-Rei, realizada no município de Cabaceiras (Estado da Paraíba),
localizado na região conhecida por Cariri-Velhos, caracterizada geograficamente
pela extrema semiaridez, apresentando índices pluviométricos insatisfatórios,
denota também a importância e a influência que vem assumindo a
caprino-ovinocultura.
Recomendação importante no que diz respeito à caprino-ovinocultura tem que ser
observada em virtude das preocupações que devem estar presentes quando o
assunto é conservação da natureza, pois, principalmente caprinos, são
tradicionais dilapidadoras de paisagens naturais, impactando formidavelmente
sobre a vegetação nativa e meio ambiente de uma forma geral.
A poesia popular não ficou de fora no que diz respeito a render tributo ao
evento anual de cunho econômico-cultural realizado em Mossoró, pois cordel de
autoria do poeta popular Nilson Silva, o qual integra a Coleção o poeta do
Amor, número 83, intitulado A Festa do Bode em Mossoró-RN, datado de 30 de
julho de 2009, traz significativas informações sobre a realização do importante
encontro que vem servindo também de espaço de resistência da própria cultura
nordestina em diversas matizes e dimensões, pois da culinária regional às
manifestações folclóricas, observa-se fomento pleno para tais caracteres
identificadores do povo nordestino nos acontecimentos observados nas
dependências do Parque Armando Buá, local onde se realiza a festa do Bode,
localizado entre as imediações da Universidade Federal Rural do Semiárido -
UFERSA (Antiga Escola Superior de Agricultura de Mossoró – ESAM) e da Avenida
Leste-Oeste (Av. Dix-neuf Rosado).
A contracapa do cordel destaca que: Antônio Nilson da Silva, filho de
Evangelista Nogueira da Silva e Antônia Salustiana da Conceição. Nasceu em
Mossoró/RN aos 26 de maio de 1958. 2º grau completo, revelou-se cordelista aos
46 anos de idade. Nilson Silva tem muitos trabalhos editados em literatura de
cordel com resgate folclórico.
A partir da estrofe de número cinco, o poeta popular revela em sua produção
cordelística as formas assumidas pela cultura popular no ensejo da realização
da festa do Bode, pois forró pé-de-serra, apresentação de violeiros, cantorias,
mamulengos, coco e poesia estão presentes para deleite de todos que cultuam as
autênticas estruturas apresentadas pelas tradições nordestinas.
No cordel de autoria do poeta popular Antônio Nilson da Silva a geografia
humana da festa do Bode está representada através de citação a comerciante de
nome Cassiano, cujo bar, bastante frequentado, tornou-se referência devido
disponibilizar para venda deliciosas iguarias da gastronomia regional. Pratos
saborosos, os quais tem o bode e seus derivados como ingredientes principais,
transformaram o lugar em ponto obrigatório para todos que apreciam a riqueza da
cozinha nordestina.
A culinária regional não foi esquecida, tendo em vista que produtos de origem
caprina como guisado, assado, pirão, linguiça e requeijão são comercializados
em espaços apropriados para tais atividades, localizados dentro e fora do
Parque Armando Buá.
O artesanato exposto quando da realização da festa do Bode, enfatizado no
cordel de autoria de Nilson Silva, tem destaque em razão que revela formas
sublimes da produção popular, manifestando pontos de vista, estéticas da
natureza regional, paisagens do cotidiano e inúmeras outras formas de
representar a realidade ou invenções das mentes dos hábeis artesãos.
Raças nativas e exóticas, expostas e comercializadas na festa do Bode, são
lembradas no cordel dedicado a um dos mais importantes lugares festivos do
município de Mossoró.
Integrando o cronograma das importantes realizações na região oeste do Estado
do Rio Grande do Norte, a festa do Bode vem conquistando espaços cada vez mais
proeminentes, não restam dúvidas, tornando-se respeitada nacionalmente em razão
da ênfase dada à pratica pecuária que tão bem representa o Nordeste Brasileiro
em lutas e busca pela permanência da cultura e das tradições diretamente
vinculadas ao povo sofrido, bravo, destemido, altivo e esperançoso de dias
melhores que garantam-lhe qualidade de vida mais satisfatória.
José Romero
Araújo Cardoso:
Geógrafo
(UFPB). Especialista em Geografia e Gestão Territorial (UFPB-1996) e em
Organização de Arquivos (UFPB - 1997). Mestre em Desenvolvimento e Meio
Ambiente pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (2002). Atualmente
é professor adjunto IV do Departamento de Geografia/DGE da Faculdade de
Filosofia e Ciências Sociais/FAFIC da Universidade do Estado do Rio Grande do
Norte/UERN. Tem experiência na área de Geografia Humana, com ênfase à Geografia
Agrária, atuando principalmente nos seguintes temas: ambientalismo, nordeste,
temas regionais. Espeleologia é tema presente em pesquisas. Escritor e
articulista cultural. Escreve para diversos jornais, sites e blogs. Sócio da
Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC) e do Instituto Cultural do
Oeste Potiguar (ICOP). Membro da Associação dos Escritores Mossoroenses
(ASCRIM).
Endereço
residencial:
Rua Raimundo
Guilherme, 117 – Quadra 34 – Lote 32 – Conjunto Vingt Rosado – Mossoró – RN –
CEP: 59.626-630 – Fones: (84) 9-8738-0646 – (84) 9-9702-3596 – E-mail:romero.cardoso@gmail.com
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