9 de mar. de 2021

MORTE DO AMÂNCIO FERREIRA DA SILVA O DELEGADO DELUZ - PARTE 2

  Por José Mendes Pereira


JOÃO MARIA VALADÃO UM DETETIVE                      

O patriarca dos Marinhos o João Marinho tinha outro genro chamado João Maria Valadão e era casado com Maria alcunhada Maninha. João Maria Valadão nasceu e foi criada no Olho d’Água, uma fazendinha dos arrabaldes. Não se pode afirmar que era muito amigo  do marido da cunhada, mas mantinha boas relações de amizade com o carrasco delegado. Devido esta aproximação com o concunhado ele foi incumbido pelo João Marinho para saber do Deluz a verdade sobre o que acontecera entre ele e a esposa, já que com três dias de convivência foi entregá-la. E assim saiu o João Maria Valadão ao encontro do temido patenteado para cumprir a missão que lhe foi confiada, e saber o motivo da entrega da Dalva ao pai. O Valadão confiava em sua coragem e mais ainda na amizade que tinha com o militar. Tinha certeza de que se sairia muito bem de sua empreitada. Com esse pensamento, partiu até a propriedade do afamado militar.               

Mesmo sem esperar aquela visita Deluz o recebeu com alegria e muito respeito. Os dois conversaram bastante. E em certo momento João Maria Valadão perguntou-lhe o porquê dele ter devolvido a Maria Dalva aos seus pais.                                

Ao ouvir isso dito pelo o concunhado o carrasco se espantou um pouco, pois jamais esperava uma conversa desta. Mas mesmo assim, deu a resposta, mostrando que não havia gostado. A Dalva tinha sido criada no meio de muito carinho. Ele era como uma suçuarana e os seus gênios totalmente diferentes, e não tinha sentido de um casal morar sob o mesmo teto e viver brigando. Ela não concordava com as suas opiniões, assim como ele não concordava com as dela.

João Maria fica ali, meditando, com o olhar para o chão, com a mão direita segurando o dedo anelar e rodando a aliança. E em seguida, levanta a cabeça dizendo que ele tem razão.

Alguns dias depois Deluz e Dalva resolveram unirem os cacarecos novamente. Seria uma nova tentativa ou para o bem ou para o mal.           

A convivência dos dois já começou sem muita afinidade um com o outro. Em casa não tinham diálogo. Uma para ali e o outro para acolá. O delegado Deluz quando não estava no destacamento, tomava rumo à sua propriedade para fazer os trabalhos rotineiros e por em prática os seus projetos. Ninguém no São Francisco contrariava as opiniões do militar, porque eram respeitadas por todos. 

Família Britto, tendo ao centro Dr. Hercílio Britto e sua esposa. (Hercílio penalva) - http://informativocaninde.blogspot.com/2012/03/francisco-cardoso-de-britto-chaves.html

Tudo que ele fazia contra a alguém tinha a proteção de um doutor chamado Hercílio Porfírio de Britto que era  filho e herdeiro do coronel Chico Porfírio e outros com influências políticas do Estado sergipano. O militar não só tinha apoio desses poderosos, como se ele se considerasse um grande rei daquela região do sertão do São Francisco. 

Os sertanejos não pouparam e o nomearam com deboche de "animal selvagem" por não ter dó de ninguém, porque era capaz de exterminar qualquer vida, sem que ninguém pudesse opinar. Um homem rancoroso e de atitudes severas ao extremo.  Só o seu jeito físico deixava qualquer um tremendo de medo. O Deluz era dono de um físico assustador, forte, gorducho, membros largos e tinha a fala mansa e fina.

Apesar da posição que lhe foi dada pelos que o protegiam, mesmo assim, Deluz era viciado em cigarro de fumo de corda fabricado em Arapiraca no Estado de Alagoas, seus cigarros eram enrolados com palha de milho. Quando o militar não estava fumando, mas a sua boca era ocupada com um punhado de fumo bravo.                          

Segundo os historiadores pode-se afirmar que Maria Dalva filha do João Marinho nunca soube o que era um instante de paz e de amor em sua vida de casada.

Desde o dia em que foi para o altar, posteriormente retornando à casa do pai para festa de casamento, e dali para o seu novo lar, a infelicidade entrou em sua vida, deixando-a reprimida e sujeita às ordens de um animal humano, sem lhe dar o mínimo respeito diante das pessoas que lhe rodeavam. O militar sempre estava de cara trancada, usando as suas atitudes grosseiras, e exigia que a esposa o obedecesse como os militares respeitam os seus comandados. 

Dalva jamais deu  valor às suas ordens e dizia ainda que ela era a sua esposa, e não tinha nada a ver, viver sob ordens grosseiras que faziam parte de regime militar. Não o obedecendo começaram logo as brigas. 

Com esse comportamento terrível do Delegado a Dalva não o considerava como marido, e sim, um carrasco que havia entrado na sua vida para lhe cobrar, como se ela fosse um subordinado das suas leis que a ela ordenava.  A Dalva de forma alguma não aceitava os seus arrufos. De gênio forte enfrentava o violento cônjuge sem medo e, com isto, as desavenças não paravam um só instante, e para que começasse, bastava ele está em casa. Enfrentava-o sem medo, mas com ódio, dizendo-lhe que as ordens militares eram para os seus subordinados, e não para ela.

PARA O BEM OU PARA O MAL DALVA ENGRAVIDA.   

Como todo ser humano que se casa quer um filho Dalva não era diferente, e  com todo esse clima de infelicidade entre os dois, Maria Dalva engravidou, achava ela que engravidando iria melhorar a convivência do casal. A família estava meio na dúvida, mas mesmo assim muda o seu pensamento e passa a desejar-lhe boas vindas ao filho que iria nascer nos próximos meses. Quem sabe, poderia ser um anjo enviado por Deus para acalmar aquele clima de tristeza e infelicidade no lar da Dalva e do militar.    

Aparentemente, todos da família de Dalva entendiam que o Deluz  estava feliz.  E talvez com demonstração que a sua vida conjugal caminhava bem, logo pediu terras no Brejo ao sogro João Marinho, que de imediato foi concedida a sua solicitação, já que antes o casal vivia de brigas. O sogro estava satisfeito com o interesse do genro pela agricultura e criação de animais. A intenção da família era de que tudo se ajeitasse, e Dalva pudesse ser feliz em seu casamento.

GRAÇA A DEUS DALVA DESCANSA EM PAZ                                                                          

Os meses foram se gastando progressivamente e Dalva começou a sentir as esperadas dores do parto. A parteira do lugar já estava preparada para qualquer momento trazer ao mundo o filho de Dalva e do carrasco Deluz. Finalmente, o instante chegou. Um chorinho baixinho no quarto anunciou a chegada do bebê.  Era uma menina linda, forte e aparentemente cheia de saúde. A mãe estava orgulhosa e feliz pelo nascimento da filha. Adélia era o seu nome, e este fora escolhido em uma reunião dos familiares. O pai o Deluz não demonstrou nenhuma felicidade com o nascimento da filha. O seu desejo era um filho, e continuou o mesmo de sempre: arrogante, sem graça, aborrecido, bruto e rancoroso diante dos familiares da Dalva.    

O CARRASCO DELUZ AMEAÇA QUEIMAR MÃE E FILHA

Nem nos primeiros dias do seu resguardo Dalva teve paz. O poderoso delegado amanhecia com o cão nos couros, feito um animal indomável, e para mostrar a sua insatisfação, e desprovido de dó, ameaçou a esposa. Mas ela o enfrentou sem medo de suas grosserias. Não tendo como se vingar da esposa, já que ela não se rendia aos seus arrufos, ou talvez porque queria um filho e veio uma filha, o sargento vingou-se, fechando a porta do quarto onde estavam mãe e filha, e não mudando o seu pensamento, derramou uma lata de querosene na casa e ameaçou incendiá-la com tudo que tinha dentro, inclusive sua filha e esposa.                

Quando a vizinhança tomou conhecimento da maldade do Deluz correu toda desesperada em gritos, chorando e agoniada ao tomar conhecimento da impiedosa atitude do cruel delegado. A solução agora era pedir socorro urgente aos seus comandados policiais. E com agilidade, os policiais chegaram e dominaram o seu comandante enlouquecido que já estava de fósforo às mãos para riscá-lo e queimar esposa e filha. Caso tivesse acontecido o incêndio na residência, mãe e filha tivessem escapadas do fogo, a convivência do casal se complicaria mais ainda, além da acirrada intriga que o Deluz adquiriria com os pais e irmãos da Dalva. O gênio amalucado e a brutalidade do Deluz, traziam grande infelicidade para toda família. Para ele, a Dalva já não era considerada uma esposa. Já fazia meses e meses que o seu amor pela Dalva tinha se acabado.

As pessoas que assistiam de perto o sofrimento da moça do Brejo, diziam penalizadas, que a Dalva não tivera sorte. Criada sobre os olhares cuidadosos e carinhosos do pai, da mãe e de toda sua família, agora vivia sobre pressão de um terrível marido. Uma pessoa tão boa se encontrava nas mãos de um vingador. 

CONTINUA AMANHÃ...

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