Por José Romero Araújo Cardoso (2)
A caprino-ovinocultura vem sendo explorada em quase todos as regiões do globo, estando presente em áreas de diferentes climas, solos e coberturas vegetais. Entretanto, essa atividade só apresenta expressão econômica em poucos lugares, sendo geralmente desenvolvida em sistema extensivo e com baixa tecnologia.
Segundo a FAO, apud SEARA (1996), a Austrália, a China e a Nova Zelândia, concentram, respectivamente, 14%, 9% e 5% do efetivo mundial do rebanho ovino. Já os maiores criadores de caprinos são a Índia, a China e o Paquistão, que detém, respectivamente, 20%, 15% e 6,5% do rebanho mundial.
Não obstante dispor de condições edafoclimáticas semelhantes ou até mesmo superiores às dos países maiores criadores dessas espécies, o Brasil detém apenas 3,3% do plantel mundial de ovinos e caprinos. Considerando a dimensão territorial e as condições favoráveis ao desenvolvimento da caprino-ovinocultura, Leite (s/d) afirma que nossos rebanhos são numericamente inexpressivos, principalmente quando comparados com a criação de bovinos, cujo efetivo nacional é da ordem de 150 milhões de cabeças.
A introdução de caprinos e ovinos no Brasil, data de 1535, pelos colonizadores portugueses, que aportaram no Nordeste (Maia et al., 1997).
Talvez em função disso, o Nordeste em 1999, concentre 93% do rebanho caprino nacional e 51% do rebanho ovino (IBGE,1999).
Para Simplício (s/d), o Nordeste brasileiro semiárido tem sido assumido, durante séculos, como área de vocação pecuária, especialmente, para a exploração dos ruminantes domésticos. No entanto, ressalte-se os caprinos e ovinos face a característica de adaptação a ecossistemas adversos, o que é fortemente influenciado pelos seus hábitos alimentares.
Ruminantes de pequeno porte, esses animais apresentam significativas vantagens em relação à bovinocultura, principalmente no que diz respeito à área ocupada e manejo. A rusticidade desses animais, bem como a facilidade de adaptação às condições ambientais são outros fatores que contribuem para tornar essa atividade relevante, nas pequenas e médias propriedades rurais do semiárido.
Nunes (1987) destaca que os custos financeiros de uma vaca equivalem ao de 8 a 20 caprinos, aliado a isso a facilidade de manejo devido ao pequeno porte destes animais, vem despertando nos produtores grande interesse em ampliar a produção de seus rebanhos, objetivando tornar a atividade mais lucrativa.
No Rio Grande do Norte, em 1999, o rebanho caprino era de 296 mil cabeças e o de ovinos de 361 mil cabeças (IBGE, 1999). Segundo o empresário Romildo Pessoa Júnior, presidente da Associação Norte-riograndense de Criadores de Ovinos e Caprinos - ANCOC, o Estado é hoje o maior produtor de leite de cabra do país, com uma produção diária de oito mil litros, totalmente absorvida pelo Programa do Leite do Governo do Estado (www.caprinet.com.br).
Diante do potencial de mercado que se apresenta para os produtos derivados da caprino-ovinocultura no Estado, a atividade foi introduzida, nos últimos anos, em assentamentos rurais de Mossoró, que por situar-se no semiárido, apresenta poucas opções de geração de emprego e renda.
Entretanto, não obstante a importância da caprino-ovinocultura na economia regional, dada a crescente demanda pela carne e pelo leite, pouco se conhece sobre as condições socioeconômicas e do criatório dos produtores assentados que se dedicam a essa atividade, dentro do contexto do desenvolvimento sustentável, reduzindo com isso a possibilidade que estes teriam de aproveitar as oportunidades sinalizadas pelas demandas do mercado em expansão.
Agravados pelas sazonais crises apresentadas pelas oscilações climáticas, os frágeis indicadores socioeconômicos e a ecologia do bioma caatingueiro são prejudicados pela falta de orientação quanto a um melhor aproveitamento das aptidões regionais, o que certamente proporcionaria a melhoria da qualidade de vida da população do semiárido nordestino com menos agressão à natureza.
Dessa forma, este trabalho pretende analisar as características apresentadas pelos assentados e pela caprino-ovinocultura praticada nos assentamentos de Hipólito (Vilas I e II), Lorena, Mulunguzinho, Cabelo de Nêgo e Cordão de Sombra (Vilas I e II) em Mossoró (Estado do Rio Grande do Norte), embora sem se deter de maneira profunda no âmbito zootécnico, mas na importância socioeconômica intercalada com a provável adequação desta prática às exigências de conservação ecológica do bioma, entendido aqui como a maior unidade de comunidade terrestre com flora, fauna e clima próprios (Grisi, 1997, p. 2).
A problematização, ou seja, a dificuldade com a qual nos defrontamos e que investigamos (cf. Rudio, 2001, p. 94) foi se a caprino-ovinocultura se apresenta ou não como geradora de emprego e renda, analisando se ela está ou não adequada ao semiárido e como se caracteriza o potencial de mercado para carne, pele e leite nesta atividade em assentamentos rurais do município de Mossoró. Numa perspectiva de impactar a realidade, avançamos nas indagações, emitindo sugestões que se implantadas irão contribuir para a melhoria de sua produção a fim de atender as exigências de demanda, proporcionando, consequentemente, a melhoria da qualidade de vida do pequeno produtor rural em assentamentos.
Por se tratar de uma experiência recente de fixação do homem no campo, os assentamentos rurais precisam ser investigados quanto às potencialidades que podem ser trabalhadas, motivo pelo qual a caprino-ovinocultura pode aparecer como atividade a acenar viabilidade, justificando-se a pertinência deste trabalho em razão de não existir análises sobre o assunto enfocado neste objeto de estudo em unidades da reforma agrária, dificultando a adoção de políticas públicas que possam incentivar a fortificação da atividade.
Enfatizamos na introdução explicações dos critérios gerais que embasaram a pesquisa, definindo objetivos e hipóteses, para em seguida destacar-se a revisão de literatura abordando a caprino-ovinocultura e a busca do desenvolvimento sustentável, cujo enfoque centra-se, sobretudo, nas prerrogativas gerais da prática pecuária correlacionada com as principais premissas das propostas teóricas sobre o desenvolvimento sustentável; assentamentos rurais e a importância regional da caprino-ovinocultura, quando analisa-se o potencial do efetivo dos rebanhos caprino e ovino para o Brasil, Nordeste, Rio Grande do Norte e Mossoró, abrangendo no segundo item o estágio atual e as perspectivas futuras da atividade na região, abordando os principais problemas e apontando prováveis soluções para melhorar o nível tecnológico que fomenta a produção e a comercialização destas pelos assentados.
Quanto ao material e métodos, fomentam-se cinco tópicos, frisando a caracterização da área de estudo, população e amostra, os instrumentos de coleta de dados, o procedimento no tratamento desses e por fim definição de estudos sobre os assentamentos pesquisados, dando ênfase aos aspectos territoriais e geográficos.
Com relação aos resultados e discussão da investigação determinam-se de início os perfis social e econômico dos caprino-ovinocultores.
Quanto aos aspectos técnicos do rebanho, destacam-se as características da atividade pecuária, os aspectos sanitários do criatório e as perspectivas de qualificação dos produtores, conforme dados colhidos entre os entrevistados.
O último item contempla análise dos indicadores da comercialização da produção, para em seguida emitirmos opiniões sobre o desempenho da caprino-ovinocultura em assentamentos rurais do município de Mossoró e sugestões de como melhorá-la.
O manejo sustentável, permitindo que a natureza ofereça condições de vida ao homem e à regeneração dos recursos naturais, é uma preocupação constante. Não se pode criar qualquer espécie animal de maneira inadequada. Especificamente, deve-se criar um número de caprinos e ovinos de acordo com a capacidade de suporte dos lotes nos assentamentos, pois a superlotação provoca um pisoteamento excessivo que vai compactar o solo, frisando ainda que o superpastejo irá levar as espécies forrageiras mais palatáveis à extinção ao longo dos anos, decretando a inviabilidade de qualquer criação doméstica.
Entende-se como exploração sustentável de um ecossistema se sua explotação está dentro dos limites de sua capacidade de renovação, levando-se em conta principalmente a fragilidade do semiárido neste aspecto.
Analisar as formas assumidas pelo manejo do criatório de caprinos e ovinos nos assentamentos rurais do município de Mossoró, Estado do Rio Grande do Norte, que fazem o nosso objeto de pesquisa, bem como as condições oferecidas por esta prática pecuária na geração de emprego e renda e sua relação com a natureza, referendam a justificativa ao diagnóstico proposto para esta atividade.
BIBLIOGRAFIA:
Caprinovinocultura mostra toda sua força no Rio Grande do Norte. Disponível em :< http:www.caprinet.com.br >. Acesso em 26 de novembro de 2001.
GRISI, Breno Machado. Glossário de ecologia e ciências ambientais. João Pessoa/PB: Editora Universitária da UFPB, 1997.
IBGE Censo demográfico. Rio de Janeiro/RJ, 2000. Disponível em :< http://www.ibge.gov.br >. Acesso em 09 de novembro de 2001.
______. Pesquisa pecuária municipal. Rio de Janeiro/RJ, 1995. Disponível em :< http://www.ibge.gov.br >. Acesso em 09 de novembro de 2001.
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______. Pesquisa pecuária municipal. Rio de Janeiro/RJ, 1998. Disponível em :< http://www.ibge.gov.br >. Acesso em 09 de novembro de 2001.
______. Pesquisa pecuária municipal. Rio de Janeiro/RJ, 1999. Disponível em :< http://www.ibge.gov.br >. Acesso em 09 de novembro de 2001.
LEITE, E. R. Ovinocaprinocultura no Nordeste - Organização e crescimento. Disponível em :<http://www.cnpc.embrapa.com.br. Acesso em 19 de junho de 2002.
MAIA, M. S.; MACIEL, F. C.; LIMA, G. F. Produção de caprinos e ovinos: recomendações básicas de manejo. Natal/RN: EMPARN/SEBRAE, dez., 1997.
NUNES, José Ferreira. Cabras podem render muito mais leite no Nordeste. Dirigente Rural [s.l.] v. 26, n. 10, p. 37-40, out. 1987.
RUDIO, Franz Victor. Introdução ao projeto de pesquisa científica. Petrópolis/RJ: Vozes, 2001.
SIMPLÍCIO, A . A . Caprinovinocultura: uma alternativa à geração de emprego e renda. Disponível em :< http://www.cnpc.embrapa.com.br>. Acesso em 19 de junho de 2002.
(1) Fragmentos de dissertação de mestrado defendida em julho de 2002 junto ao PRODEMA/UERN, orientada pelo Prof. Dr. Benedito Vasconcelos Mendes.
(2) José Romero Araújo Cardoso:
Geógrafo (UFPB). Especialista em Geografia e Gestão Territorial (UFPB-1996) e em Organização de Arquivos (UFPB - 1997). Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (2002). Atualmente é professor adjunto IV do Departamento de Geografia/DGE da Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais/FAFIC da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte/UERN. Tem experiência na área de Geografia Humana, com ênfase à Geografia Agrária, atuando principalmente nos seguintes temas: ambientalismo, nordeste, temas regionais. Espeleologia é tema presente em pesquisas. Escritor e articulista cultural. Escreve para diversos jornais, sites e blogs. Sócio da Sociedade Brasileira de Estudos do Cangaço (SBEC) e do Instituto Cultural do oeste Potiguar (ICOP). Membro da Associação de Escritores Mossoroenses (ASCRIM).
Endereço residencial:
Rua Raimundo Guilherme, 117 – Quadra 34 – Lote 32 – Conjunto Vingt Rosado – Mossoró – RN – CEP: 59.626-630 – Fones: (84) 9-8738-0646 – (84) 9-9702-3596 – E-mail: romero.cardoso@gmail.com
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