Por: Ronnyeri e Volta Seca
Rastejador Batoque - Imagem acervo da escritora Marilourdes Ferraz
Diante situação de embaraço em que ficava em risco o sucesso da campanha, entrava em ação um personagem merecedor de apoteoses e medalhas porque não matava, e representava a inteligência inculta, mas ágil, perspicaz, ativa: o rastejador.
Ranulfo Prata em seu Grande livro “Lampião”, descreve assim o rastejador:
O RASTEJADOR é um homem de sentidos agudíssimos, cujos olhos percucientes são objetivas poderosas que visionam o microscópico.
É a testa das volantes, que se lhe entregam de corpo e alma, uma cega confiança à proverbial lealdade sertaneja, ele as conduz meses a fio em marchas incessantes pelo deserto. O bom ou mal êxito das batidas depende dele, exclusivamente.
É tudo na coluna, porque é a visão, maior do que o cérebro, no sertão ínvio.
Detém-se, de repente, em lugar onde a vegetação rala e o solo entorroado e pedrento nada evidenciam a olhos vulgares. Esbarra, acocora-se, examina com simples toque de dedo grosso, seixos e cascalhos, "assunta" de mão no queixo, "magina" minutos, e, volvendo a face tostada de sóis, onde chispam olhos vivazes, conta ao tenente, em fala remorada, o seu achado, apontando, com segurança inabalável, a pista do bando. Segue-a a tropa pressurosa, com o batedor a frente, "escanchado" no rastro. Sem perdê-la, trazendo-a sempre de baixo dos olhos atentos, a marcha se estira por dias e semanas , até que as feras humanas, acuadas longe, ofereçam combate, negaceiem e escapem em fuga precipite.
Recomeça novo trabalho de pesquisa de rumo, descobrimento de novo rastro, seguindo-se a caminhada exaustiva que tem como remate escaramuça quase sempre descompensadora.
Não é adivinho nem mágico, porém, o matuto privilegiado. Ele enxerga "realmente" vestígios, baseia-se, nas suas afirmativas, em indícios tangíveis, concretizados em pequena folha machucada, cinza de cigarro ou borralho, um fósforo, touças de capim acamado, pegadas de levíssimo desenho. O mais é ilação, agudeza, experiência de gerações, trabalho de inteligência vivacíssima e o que eles chamam - o "dom".
Ao debruçar-se sobre um rastro diz se é fresco, isto é, recente ou se velho, de dias, e de quantos dias.
Enumera os homens e mulheres que compõem o bando. Afirmar se Lampião está em pessoa a chefiá-lo, ou se é Corisco ou outro qualquer dos seus lugar-tenentes.
Pormenoriza estupendamente, adiantando se após o grupo passou gente que lhe é estranha, e dissociando os sexos.
Adiante, sob a copa derramada dos umbuzeiros amigos, informando que os bandoleiros ali pernoitaram, precisa o número de homens e mulheres, apontando os lugares que serviram de coitos a solteiros e a casais.
E alongando-se em detalhes pitorescos e maliciosos, dizem ainda, pela marca dos joelhos e dos cabelos entrouxados, dos "cocós" femininos, se o amor andou ali a fazer das suas, atraído pela doçura da noite tropical e pelo dossel de folhagem verdejante, suavemente bólido por uma brisa macia, carregada de perfumes agrestes.
E não e só pegada humana que o batedor descobre e segue.
Rasteja todos os animais, avantajando-se, muita vez, aos próprios cães, dando, muito antes deles, com o rastro da caça que lhes atrita no focinho para avivar-lhes o olfato.
Sem falar na caça graúda, a suçuarana que marca o chão com enorme pata, e o tamanduá, que deixa após indícios gritantes, o rastejador lobriga, sem ajuda de lentes, meia dúzia de finos grãos de poeira que a ponta ferina de um casco de veado depôs, mal trocando-a, em corrida veloz, sobre uma Lage.
Segue os pequenos animais, o preá, de pata minúscula, o teiú, que mal acama a vegetação sob o seu peso Ieve, o tatu-bola, todo delicadeza, a pisar o chão com sutileza de quem traz veludo nos pés. As próprias abelhas são "rastejadas" nos ares, seguidas no seu pesado voejo, mato a dentro, ate os troncos onde tem as suas "casas".
Para neutralizar, porém, a ação do rastejador, os bandidos contrapõe em artimanhas e ardis.
Com o fito de o desnortear, passam a andar trechos e trechos do caminho a um de fundo, todos a pisarem cuidadosamente a mesma pegada, simulando um só vajor. Invertem as alpercatas, ficando com os calcanhares para a frente, produzindo atrapalhação de rumo.
Quando sentem a tropa perto, pega não pega, trepam nas cercas e a firmarem-se como equilibristas desengonçados, varam quilômetros e quilômetros, suspensos do solo, onde não ficarão vestígios delatores.
Vezes outras, em estradas largas, um deles desloca-se do grupo, e armada de espesso e folhudo galho de arvores. segue-o à distancia, apagando sinais da marcha, "baraiando" o rastro.
Pelo que eu li na literatura cangaceira, o maior RASTEJADOR em minha opinião foi o "BATOQUE", que enxergava, onde ninguém via nada. Ele andou muitos anos com os nazarenos (maiores inimigos de Lampião), e, várias vezes em combate, foi ameaçado de ser sagrado pelos cangaceiros, que o odiavam.
Pelo que eu li na literatura cangaceira, o maior RASTEJADOR em minha opinião foi o "BATOQUE", que enxergava, onde ninguém via nada. Ele andou muitos anos com os nazarenos (maiores inimigos de Lampião), e, várias vezes em combate, foi ameaçado de ser sagrado pelos cangaceiros, que o odiavam.
Ainda, segundo a literatura lampiônica, o rastejador era muito visado pelos cangaceiros, que o tinham como o grande inimigo, pois descobria os rastros e o paradeiro dos perseguidos.
Em armadilhas (emboscadas) feitas pelos cangaceiros, o rastejador da policia, era o primeiro a morrer, uma vez que sempre andava á frente da tropa, e os cangaceiros atiram nele "DE PONTO".
Esse homem, da foto abaixo, é o famoso "rastejador" BATOQUE.
Fonte: facebook
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Página: Voltaseca Volta
Grupo: Lampião, Cangaço e Nordeste
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