A primeira questão de Lampião com o povo de
Nazaré
No Campo da
Ema, terra pertencente à antiga Fazenda Algodões – arrendada em 1819 pelo
conselheiro Manoel de Souza Ferraz -, nasceu, em 1917, o povoado de Nazaré do
Pico, há 46 km de Serra Talhada (PE). Marco divisório entre Floresta e Serra
Talhada, no final do século XIX, o governo de Gonçalves Ferreira dividiu os
municípios em várias subdelegacias que contrariam com cartórios de registro
civil, local de votação, subdelegados e inspetores policiais. Na região do vale
do Riacho São Domingos foi criada a subdelegacia do povoado de São Francisco,
em Serra Talhada (PE), com outra, igualmente criada, na Fazenda Ema, no
município de Floresta (PE).
Coronel Manoel Pereira da Silva Jacobina, o Padre Pereira
A primeira tinha o comando do coronel Manoel
Pereira da Silva Jacobina, o Padre Pereira, ex-prefeito assassinado de Serra
Talhada e pai do famoso cangaceiro Luís Padre. A segunda ficava com o comando
do major João Gregório Ferraz Nogueira que tinha em seu sobrinho, Severiano
Ferraz Nogueira, o representante legal do cartório eleitoral e do registro
civil. Com a chegada ao poder do padre Afonso Antero Pequeno, eleito prefeito
municipal em 1907 como candidato de consenso, o mesmo conseguiu do governador
Sigismundo Gonçalves a transferência do comando da subdelegacia de São
Francisco e entregou o cargo ao major João Alves Nogueira, da Fazenda Serra
Vermelha. Com esse ato, o ex-prefeito Antônio Andrelino Pereira da Silva (filho
do Barão do Pajeú e cunhado do Padre Pereira) rompeu politicamente com o
senador Rosa e Silva, homem que dominava a política pernambucana na época.
Amigo do coronel Antônio Pereira, o major João Gregório também sofreu as
consequências da política da época. Pacífico e calmo, o major também foi
substituído do cargo de subdelegado, porém, conseguiu que o nomeado fosse um
sobrinho, João de Souza Nogueira (João Flor), filho de seu irmão Manoel de
Souza Ferraz, dono do sítio Catarina, na Ema. Já o comando do cartório do
registro civil que estava nas mãos de Severiano Ferraz Nogueira passou para as
mãos de Domingos Soriano de Souza, primo do major João Gregório. Representante
do cartório civil e da seção eleitoral, Domingos Soriano viu sua Fazenda
Carqueja virá um local de bastante frequência na época. Lá ele, Domingos
Soriano, ministrava aulas para alguns alunos das regiões do São Domingos, Cipós
e São Miguel, no município de Serra Talhada (PE), e Ema, Santa Paula e São
Gonçalo, no município de Floresta (PE). Naquela escola as aulas eram dadas ao
ar livre. Os alunos traziam de casa os banquinhos em que se sentavam para
assistir às aulas à sombra de frondoso cajueiro, na fazenda Carqueja. “O
esforçado mestre não se furtava aos pedidos de pais residentes em outras
fazendas das ribeiras adjacentes, os quais receberiam a rara oportunidade de
poder proporcionar instrução aos filhos. Gerações tiveram a benéfica influência
do professor, que se preocupava em manter os pupilos afastados da onda do
cangaço que corroía o Sertão”. (GOMINHO, Leonardo, 1996: Floresta, uma Terra,
um Povo).
Conta
Marilourdes Ferraz, neta de João Flor, no seu livro “O Canto do Acauã”, que o
professor via sua residência ser invadida por rapazes e moças, alunos e
companheiros de seus filhos, que permaneciam por várias horas em palestras e
reuniões alegres, nos dias de repouso. Foi num desses encontros que um filho do
professor, Manoel Soriano, contou o sonho que tivera na noite anterior: – “Vira
surgir uma vila naquela área em que residiam”. A ideia empolgou os presentes,
entre os quais Manoel Flor e seus irmãos Euclides Flor e Odilon Flor, filhos do
subdelegado João Flor. O entusiasmo foi geral e o primeiro passo foi a criação
de uma feira semanal, marcada para os domingos. “A data inaugural da mesma foi
fixada para 12 de setembro de 1917. Os idealizadores da vila a ser formada
percorreram as ribeiras do São Domingos e São Gonçalo e a fazenda Campo Alegre,
anunciando o acontecimento” e pedindo a cooperação de todos. Os resultados não
se fizeram esperar. Domingos Soriano logo doou trinta braças em quadra de
terras de sua Fazenda Carqueja para patrimônio do povoado que surgia, sendo
seguido pelo vizinho Antônio “Campo Alegre”, que doou área igual. Aí foram
construídas residências pelos fazendeiros das redondezas. “Da sede do
município, Floresta, veio preciosa ajuda ao fortalecimento do comércio local,
por intermédio dos senhores João Gominho Filho, José Tiburtino Novaes e major
João Novaes, que instalaram pequenas lojas de tecidos”.
O padre
Antônio Zacarias de Paiva, de Serra Talhada, ao celebrar a primeira missa,
sugeriu fosse dado o nome de Nazaré ao nascente povoado, pois o considerava
abençoado pela paz e pela união de suas famílias. Elevada à vila, anos depois,
teve sua igreja construída com a orientação dos padres Luís e José Kherle,
irmãos. Para a construção, os comerciantes Luiz Gonzaga Lopes Ferraz, de
Belmonte (PE), Ubaldo Nogueira de Carvalho, de Triunfo (PE), e o João Lopes
Ferraz, da fazenda Ilha Grande e irmão de Domingos Soriano, ofereceram quantias
consideráveis. O padre Zé Kherle foi quem comprou uma imagem de Nossa Senhora
da Saúde, padroeira de Nazaré. Um filho de uma prima-cunhada do major João
Gregório, Antônio Gomes Jurubeba, uma figura simples, mas destemida, respeitada
e sempre lembrada, contribuía para a afirmação do povoado.
A vida na
pequena povoação correu tranqüila até quando chegou na região a família de
Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Este, acompanhado dos irmãos Antônio e
Levino Ferreira, começaram a se envolver com pequenos furtos, o que fez com que
os três se indispusessem com a gente de Nazaré. O ano de 1919 constituiu o
início de longa temporada de apreensões para o povo de Nazaré. Naquele ano,
partindo de Serra Talhada, o ex-vereador Jacinto Alves de Carvalho (Sindário
Carvalho, genro do coronel Antônio Alves do Exu) sitiava Nazaré a procura de
inimigos (Francisco Nogueira e seus genros Raimundo Torres e Praxedes Pereira,
irmão de Né Pereira e Sinhô Pereira) que passaram alguns dias no povoado, mas
que já haviam partido em direção ao Riacho do Navio. Vendo o povoado invadido,
Virgulino e Levino juntaram-se aos filhos e parentes de João Flor,
prontificando-se a lutar ao lado dos nazarenos que, por pouco, não se
envolveram na luta fratricida da época entre Pereira e Carvalho, de Serra
Talhada (PE). Com a resistência dos moradores do povoado, Sindário foi embora
prometendo um dia voltar. Dias depois, Lampião e seu irmão Antônio Ferreira
emboscaram José Alves Nogueira, cunhado de seu inimigo Zé Saturnino, quando o
mesmo voltava de uma feira em Nazaré. Ouvindo os tiros, os nazarenos correram
em socorro de Zé Nogueira, acompanhados de Levino Ferreira, que desconhecia
serem seus irmãos os agressores. Chegando no local, os nazarenos foram
repelidos por tiros do adversários que foram reconhecidos com sendo os irmãos
Ferreira. Padrinho de fogueira de Lampião quando o mesmo morava na Fazenda Poço
do Negro, em Nazaré, o subdelegado João Flor ordenou a suspensão do fogo e
repreendeu:
- “Que é isso, Virgulino? Então você atira em seu padrinho? Não me reconheceu quando cheguei?”. Lampião respondeu que era aquilo mesmo, adiantando que, naquelas ocasiões, “afilhado briga com padrinho e padrinho com afilhado”.
Fotografia de
Antônio Gomes Jurubeba, nascido em 28/4/1874, na Fazenda Ema, Floresta (PE).
Homem respeitado na região, foi quem expulsou os irmãos Ferreira das imediações
de Nazaré do Pico quando era subdelegado, sendo por eles odiado e perseguido.
Furioso com a
resposta, João Flor intimou os irmãos a não retornarem a Nazaré se não
quisessem viver pacificamente. Levino Ferreira pulou para o lado dos irmãos
dizendo que agora eram três para brigar. Estava iniciada a rixa dos irmãos
Ferreira com os filhos do lugarejo. Passaram-se alguns dias e os irmãos
Ferreira voltaram acintosamente a Nazaré, provocando a todos, e poucos dias
depois começaram a formar um bando de cangaceiros. Tentaram entrar mais uma vez
na povoação, mais foram repelidos a bala, ocasião em que Levino Ferreira foi
baleado, preso e conduzido até Floresta (PE). Os Ferreira, que na época eram
correligionários políticos da família Ferraz de Floresta, procuraram o coronel
Antônio Boiadeiro, ex-prefeito da cidade e chefe político da família, e com ele
firmaram um acordo. Levino seria solto, mas família Ferreira teria que ir
embora do povoado. Levino foi solto e os Ferreira mudaram-se, no segundo
semestre de 1919, para Alagoas. Lampião não ficou muito tempo em Alagoas.
Voltou a incursionar pela região de Nazaré e passou a perseguir parentes de
João Flor. Temendo uma tragédia, os primos Manoel Flor (filho de João Flor) e
Luís Soriano (filho de Domingos Soriano) viajaram no dia 24 de julho de 1923
para Floresta e solicitaram ao coronel Antônio Boiadeiro, que havia feito o
acordo com os Ferreira, um reforço policial para o povoado. Receberam um
conselho:
- “Voltem e nada relatem a qualquer pessoa, porque não temos soldados para enviar! E se os cangaceiros souberem que vieram aqui com esse propósito, a situação vai piorar”.
https://www.facebook.com/hildegardo.lunaferraznogueira/posts/681270518609924
http://blogdomendesemendes.blogspot.com
Boa noite. Amigo , se possivel depois coloque os creditos deste texto para LUIZ FERRAZ FILHO , o autor deste referido ensaio hostorico que foi compartilhado nas redes sociais. Muito obrigado pela atenção.
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