23 de mar. de 2016

NAZARÉ DO PICO MUNICÍPIO DE FLORESTA,TERRA DA MINHA FAMÍLIA,MEU AVÔ JOÃO DE SOUZA NOGUEIRA (JÕAO FLOR)UM DOS SEUS FUNDADORES .


A primeira questão de Lampião com o povo de Nazaré

No Campo da Ema, terra pertencente à antiga Fazenda Algodões – arrendada em 1819 pelo conselheiro Manoel de Souza Ferraz -, nasceu, em 1917, o povoado de Nazaré do Pico, há 46 km de Serra Talhada (PE). Marco divisório entre Floresta e Serra Talhada, no final do século XIX, o governo de Gonçalves Ferreira dividiu os municípios em várias subdelegacias que contrariam com cartórios de registro civil, local de votação, subdelegados e inspetores policiais. Na região do vale do Riacho São Domingos foi criada a subdelegacia do povoado de São Francisco, em Serra Talhada (PE), com outra, igualmente criada, na Fazenda Ema, no município de Floresta (PE). 

Coronel Manoel Pereira da Silva Jacobina, o Padre Pereira

A primeira tinha o comando do coronel Manoel Pereira da Silva Jacobina, o Padre Pereira, ex-prefeito assassinado de Serra Talhada e pai do famoso cangaceiro Luís Padre. A segunda ficava com o comando do major João Gregório Ferraz Nogueira que tinha em seu sobrinho, Severiano Ferraz Nogueira, o representante legal do cartório eleitoral e do registro civil. Com a chegada ao poder do padre Afonso Antero Pequeno, eleito prefeito municipal em 1907 como candidato de consenso, o mesmo conseguiu do governador Sigismundo Gonçalves a transferência do comando da subdelegacia de São Francisco e entregou o cargo ao major João Alves Nogueira, da Fazenda Serra Vermelha. Com esse ato, o ex-prefeito Antônio Andrelino Pereira da Silva (filho do Barão do Pajeú e cunhado do Padre Pereira) rompeu politicamente com o senador Rosa e Silva, homem que dominava a política pernambucana na época. Amigo do coronel Antônio Pereira, o major João Gregório também sofreu as consequências da política da época. Pacífico e calmo, o major também foi substituído do cargo de subdelegado, porém, conseguiu que o nomeado fosse um sobrinho, João de Souza Nogueira (João Flor), filho de seu irmão Manoel de Souza Ferraz, dono do sítio Catarina, na Ema. Já o comando do cartório do registro civil que estava nas mãos de Severiano Ferraz Nogueira passou para as mãos de Domingos Soriano de Souza, primo do major João Gregório. Representante do cartório civil e da seção eleitoral, Domingos Soriano viu sua Fazenda Carqueja virá um local de bastante frequência na época. Lá ele, Domingos Soriano, ministrava aulas para alguns alunos das regiões do São Domingos, Cipós e São Miguel, no município de Serra Talhada (PE), e Ema, Santa Paula e São Gonçalo, no município de Floresta (PE). Naquela escola as aulas eram dadas ao ar livre. Os alunos traziam de casa os banquinhos em que se sentavam para assistir às aulas à sombra de frondoso cajueiro, na fazenda Carqueja. “O esforçado mestre não se furtava aos pedidos de pais residentes em outras fazendas das ribeiras adjacentes, os quais receberiam a rara oportunidade de poder proporcionar instrução aos filhos. Gerações tiveram a benéfica influência do professor, que se preocupava em manter os pupilos afastados da onda do cangaço que corroía o Sertão”. (GOMINHO, Leonardo, 1996: Floresta, uma Terra, um Povo).

Conta Marilourdes Ferraz, neta de João Flor, no seu livro “O Canto do Acauã”, que o professor via sua residência ser invadida por rapazes e moças, alunos e companheiros de seus filhos, que permaneciam por várias horas em palestras e reuniões alegres, nos dias de repouso. Foi num desses encontros que um filho do professor, Manoel Soriano, contou o sonho que tivera na noite anterior: – “Vira surgir uma vila naquela área em que residiam”. A ideia empolgou os presentes, entre os quais Manoel Flor e seus irmãos Euclides Flor e Odilon Flor, filhos do subdelegado João Flor. O entusiasmo foi geral e o primeiro passo foi a criação de uma feira semanal, marcada para os domingos. “A data inaugural da mesma foi fixada para 12 de setembro de 1917. Os idealizadores da vila a ser formada percorreram as ribeiras do São Domingos e São Gonçalo e a fazenda Campo Alegre, anunciando o acontecimento” e pedindo a cooperação de todos. Os resultados não se fizeram esperar. Domingos Soriano logo doou trinta braças em quadra de terras de sua Fazenda Carqueja para patrimônio do povoado que surgia, sendo seguido pelo vizinho Antônio “Campo Alegre”, que doou área igual. Aí foram construídas residências pelos fazendeiros das redondezas. “Da sede do município, Floresta, veio preciosa ajuda ao fortalecimento do comércio local, por intermédio dos senhores João Gominho Filho, José Tiburtino Novaes e major João Novaes, que instalaram pequenas lojas de tecidos”.

O padre Antônio Zacarias de Paiva, de Serra Talhada, ao celebrar a primeira missa, sugeriu fosse dado o nome de Nazaré ao nascente povoado, pois o considerava abençoado pela paz e pela união de suas famílias. Elevada à vila, anos depois, teve sua igreja construída com a orientação dos padres Luís e José Kherle, irmãos. Para a construção, os comerciantes Luiz Gonzaga Lopes Ferraz, de Belmonte (PE), Ubaldo Nogueira de Carvalho, de Triunfo (PE), e o João Lopes Ferraz, da fazenda Ilha Grande e irmão de Domingos Soriano, ofereceram quantias consideráveis. O padre Zé Kherle foi quem comprou uma imagem de Nossa Senhora da Saúde, padroeira de Nazaré. Um filho de uma prima-cunhada do major João Gregório, Antônio Gomes Jurubeba, uma figura simples, mas destemida, respeitada e sempre lembrada, contribuía para a afirmação do povoado.

A vida na pequena povoação correu tranqüila até quando chegou na região a família de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. Este, acompanhado dos irmãos Antônio e Levino Ferreira, começaram a se envolver com pequenos furtos, o que fez com que os três se indispusessem com a gente de Nazaré. O ano de 1919 constituiu o início de longa temporada de apreensões para o povo de Nazaré. Naquele ano, partindo de Serra Talhada, o ex-vereador Jacinto Alves de Carvalho (Sindário Carvalho, genro do coronel Antônio Alves do Exu) sitiava Nazaré a procura de inimigos (Francisco Nogueira e seus genros Raimundo Torres e Praxedes Pereira, irmão de Né Pereira e Sinhô Pereira) que passaram alguns dias no povoado, mas que já haviam partido em direção ao Riacho do Navio. Vendo o povoado invadido, Virgulino e Levino juntaram-se aos filhos e parentes de João Flor, prontificando-se a lutar ao lado dos nazarenos que, por pouco, não se envolveram na luta fratricida da época entre Pereira e Carvalho, de Serra Talhada (PE). Com a resistência dos moradores do povoado, Sindário foi embora prometendo um dia voltar. Dias depois, Lampião e seu irmão Antônio Ferreira emboscaram José Alves Nogueira, cunhado de seu inimigo Zé Saturnino, quando o mesmo voltava de uma feira em Nazaré. Ouvindo os tiros, os nazarenos correram em socorro de Zé Nogueira, acompanhados de Levino Ferreira, que desconhecia serem seus irmãos os agressores. Chegando no local, os nazarenos foram repelidos por tiros do adversários que foram reconhecidos com sendo os irmãos Ferreira. Padrinho de fogueira de Lampião quando o mesmo morava na Fazenda Poço do Negro, em Nazaré, o subdelegado João Flor ordenou a suspensão do fogo e repreendeu:

- “Que é isso, Virgulino? Então você atira em seu padrinho? Não me reconheceu quando cheguei?”. Lampião respondeu que era aquilo mesmo, adiantando que, naquelas ocasiões, “afilhado briga com padrinho e padrinho com afilhado”.

Fotografia de Antônio Gomes Jurubeba, nascido em 28/4/1874, na Fazenda Ema, Floresta (PE). Homem respeitado na região, foi quem expulsou os irmãos Ferreira das imediações de Nazaré do Pico quando era subdelegado, sendo por eles odiado e perseguido.

Furioso com a resposta, João Flor intimou os irmãos a não retornarem a Nazaré se não quisessem viver pacificamente. Levino Ferreira pulou para o lado dos irmãos dizendo que agora eram três para brigar. Estava iniciada a rixa dos irmãos Ferreira com os filhos do lugarejo. Passaram-se alguns dias e os irmãos Ferreira voltaram acintosamente a Nazaré, provocando a todos, e poucos dias depois começaram a formar um bando de cangaceiros. Tentaram entrar mais uma vez na povoação, mais foram repelidos a bala, ocasião em que Levino Ferreira foi baleado, preso e conduzido até Floresta (PE). Os Ferreira, que na época eram correligionários políticos da família Ferraz de Floresta, procuraram o coronel Antônio Boiadeiro, ex-prefeito da cidade e chefe político da família, e com ele firmaram um acordo. Levino seria solto, mas família Ferreira teria que ir embora do povoado. Levino foi solto e os Ferreira mudaram-se, no segundo semestre de 1919, para Alagoas. Lampião não ficou muito tempo em Alagoas. Voltou a incursionar pela região de Nazaré e passou a perseguir parentes de João Flor. Temendo uma tragédia, os primos Manoel Flor (filho de João Flor) e Luís Soriano (filho de Domingos Soriano) viajaram no dia 24 de julho de 1923 para Floresta e solicitaram ao coronel Antônio Boiadeiro, que havia feito o acordo com os Ferreira, um reforço policial para o povoado. Receberam um conselho:

- “Voltem e nada relatem a qualquer pessoa, porque não temos soldados para enviar! E se os cangaceiros souberem que vieram aqui com esse propósito, a situação vai piorar”.

https://www.facebook.com/hildegardo.lunaferraznogueira/posts/681270518609924
http://blogdomendesemendes.blogspot.com

Um comentário:

  1. Boa noite. Amigo , se possivel depois coloque os creditos deste texto para LUIZ FERRAZ FILHO , o autor deste referido ensaio hostorico que foi compartilhado nas redes sociais. Muito obrigado pela atenção.

    ResponderExcluir