3 de mar. de 2016

MORRE TIHANY, O CIRCO CHORA

Por Rangel Alves da Costa*

Respeitável público, o circo chora! E sofre pela perda de um de seus maiores expoentes: Franz Czeiler, o Tihany, falecido nesta quarta-feira, dia 02, aos 99 anos, o húngaro que veio para o Brasil e fez o país delirar de alegria. E agora, entristecidas, fecham-se as cortinas de mais um ato da vida.

Gerações e mais gerações cresceram ouvindo falar nas maravilhas do Circo Tihany, um dos grandes representantes do maior espetáculo da terra. E o seu criador, ilusionista, mágico, adepto do palco circense, um sonhador que semeou alegria já desde mais de sessenta anos. E desde então até se aposentar, abriu suas lonas pelo mundo inteiro. A diversão continua, eis que o Circo Tihany ainda apresenta seus espetáculos, mas já há algum tempo sem a presença de seu idealizador.

Está no circo a verdadeira arte de encantar. Nos palhaços, nas bailarinas, nos encantadores, nos mágicos, nos trapezistas, nos domadores, nos acrobatas, nos equilibristas, nos ilusionistas, nos saltimbancos e mambembes de todos os caminhos, a verdadeira arte popular.

Popular porque indo até o povo está. E não há povo que não goste de circo, que não aprecie seus grandiosos espetáculos, ainda que seja apenas uma tenda armada na beira de estrada, em remoto lugar. Porque tem palhaço, tem pipoca, tem alegria, tem diversão para a família inteira.

No passado e ainda na atualidade, nomes de circos grandiosos: Circo Imperial da China, Cirque d’Hiver, Circo Oz, Circus Krone, Cirque du Soleil, Circo Royal, Circo Di Roma, Acrobáticos Fratelli, Patifes e Paspalhões. E quem não se lembra do Circo Vostok, do Orlando Orfei, do Circo de Moscou, do Circo Garcia e do Circo Tihany?

Quem já não ouviu falar em Carequinha, Arrelia, Torresmo, Piolin, Picolino e Pimentinha? Simplesmente os maiores palhaços do Brasil, aqueles que ao entrar no picadeiro possuíam o dom de transformar toda tristeza em alegria, toda seriedade em diversão. Os gestos, os narizes vermelhos, os cabelos desengonçados, as roupas coloridas folgadas, os rostos pintados, a arte sem igual de encantar multidões.


E Tihany, o mesmo criador que emprestou seu nome ao circo, durante gerações levantou suas tendas, suas lonas, seus picadeiros e suas luzes, criando um mundo onde reinava somente o mágico, o espetacular, o extraordinário. Um circo grandioso, imenso, com diversidade de espetáculo, mas sempre no intuito único de fazer desabrochar a alegria nos corações.

Verdade que a realidade atual do circo é muito diferente daquela dos tempos idos. Nos dias atuais, se tornou raridade encontrar um circo com suas lonas erguidas e suas tendas espalhados ao redor. Nem nas grandes cidades ou capitais os circos são facilmente encontrados. Apenas um ou outro que chega para ligeiras temporadas. Somente os parques de diversões ainda são avistados com frequência em épocas festivas e de final de ano.

Os que ainda sobrevivem com o nome de circo tiveram que se transformar em verdadeiras parafernálias tecnológicas, o Cirque de Soleil sendo o exemplo maior. As tecnologias fizeram desaparecer os espetáculos frente ao público, pedindo sua participação. Sumiu a espontaneidade dos palhaços, também desapareceram suas atrações inconfundíveis: a mulher barbada, o atirador de facas, a dançarina de palco (rumbeira), o palhaço traquina.

Não havia cidade interiorana que não se encantasse com a chegada de um circo. Bastava o anúncio e tudo era motivo de rebuliço festivo. Contudo, não se vê mais aquele cortejo tão esperado, com carros carregando em segredo as grandes atrações. O que se tem, e quando ainda é possível encontrar, são trupes empobrecidas que vagueiam pelos interiores muito mais em busca de meios de sobrevivência, de qualquer ingresso adquirido que ajude a subsistir.

Os grandes circos continuam com seus espetáculos, mas suas famas ainda são aquelas alcançadas no passado. E de um passado tão grandioso, belo e comovente, que também não se esquece de quem tanto lutou para que o público ouvisse o “hoje tem espetáculo!”, e mais tarde fosse cumprimentado com o “respeitável público!”. E Tihany foi um de seus expoentes maiores.

Poeta e cronista
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