22 de jan. de 2016

ENTREVISTA COM O EX CHEFE CANGACEIRO "SINHÔ PEREIRA"


Faleceu hoje, 26 de Fevereiro, em Serra Talhada-PE, o Sr. Luiz Conrado de Lorena e Sá. Lorena como era conhecido, foi prefeito do município de Serra Talhada durante três mandatos: 1945/47, 1955/59 e 1964/68.

Os cangaceiros Sinhô Pereira e Luiz Padre primos entre si

Era parente próximo dos famosos cangaceiros Sinhô Pereira e Luiz Padre, pois o avô de Lorena que também se chamava Sebastião era primo legítimo de Sinhô e Luiz Padre.

O sepultamento ocorreu hoje às 17:00 hs no cemitério municipal da cidade.


Conheçam a entrevista concedida pelo lendário chefe de Lampião ao Sr. Luiz Lorena , em 1971


Seu nome na pia batismal deve-se ao fato de ter nascido no dia de São Sebastião, 20 de Janeiro de 1896.


Sebastião Pereira da Silva "Sinhô Pereira" (Foto) nasceu em Vila Bela, em meio à uma áspera guerra entre as famílias Pereira (a sua) e Carvalho. Foi chefe de cangaceiros e das suas mãos Lampião recebeu o bando.

Sinhô Pereira foi embora para Goiás no ano de 1922 e só voltou beber das águas límpidas e saborosas do Pajeú no ano de 1971 (mês de junho), quando veio visitar a família em Serra Talhada, PE.

Naquela ocasião Luiz Lorena e Sá, da família Pereira, travou o seguinte diálogo com seu brioso parente, que fora no passado o braço armado do clã:

Lorena - Qual o momento que marcou sua vida de maneira indelével?

Sinhô - Foram tantos os momentos dramáticos no meu trajeto que seria impossível escolher um.

Lorena - Qual seu dia de maior alegria?

Sinhô - Chegar a Serra Talhada 50 anos depois e ser recebido por todos os parentes com carinho que me dispensaram, foi na verdade motivo de muita alegria.

Lorena - Qual seu dia de maior tristeza?

Sinhô - Estando eu em Lagoa Grande, distrito de Presidente Olegário/MG, recebi a notícia do falecimento de Luiz Padre, em Anápolis, Goiás. Nem ao sepultamento compareci.

Lorena - Você tem alguma grata satisfação do seu tempo de guerrilheiro?

Sinhô - Não. Nasci para ser cidadão, casar-se e constituir família. Fui namorado da moça mais bonita do Pajeú.

Lorena - Por que se envolveu nessa tragédia?

Sinhô - A impunidade em Vila Bella teve seu auge em minha juventude; do assassinato de seu Né - meu irmão - nem inquérito policial foi aberto.

Lorena - Você reconhece o que seus contemporâneos dizem sobre o seu espírito guerreiro e de ser você o mais valente entre esses?

Sinhô - havia homens valentes até quase a loucura, entretanto, brigavam para matar. Na hora de morrer, até fugiam do campo de luta. Naquelas circunstâncias matar ou morrer para mim, seria a mesma coisa; daí a diferença.

Lorena - Desses confrontos, qual o que você teve mais proveito?

Sinhô - A família Pereira (minha família) vivia atormentada em face de minhas ações. Era imperativo mudar a face da história.

Lorena - Quais os fatos que mais perturbavam você?

Sinhô - Vários. No começo tudo o que eu fazia errado dava certo. Com o passar do tempo tudo o que eu fazia certo dava errado.

Lorena - Entre estes, você poderia destacar um?

Sinhô - Sim. A morte de João Bezerra, em Bom Nome. Na forma como eu procedi, acelerou minha decisão. O meu estado de espírito estava de tal forma desajustada que já não tinha condição de conduzir as ações do grupo que comandava.

Lorena - Em que circunstância Lampião apareceu em sua vida?

Sinhô - Ele e os irmãos chegaram de Alagoas depois do assassinato do pai, dispostos a confrontar com José Saturnino, seu inimigo comum. Não tinham condições financeiras nem experiências. Procuraram-me e participaram com muita bravura de alguns combates.

Lorena - Por que Virgolino Ferreira da Silva ganhou o apelido de Lampião?

Sinhô - Num combate, à noite, na fazenda Quixaba, o nosso companheiro Dê Araújo comentou que a boca do rifle de Virgolino mais parecia um lampião. Eu reclamei, dizendo que munição era adquirida a duras penas. Desse episódio resultou o Lampião que aterrorizou o Nordeste.

Lorena - Você não quis Lampião em sua viagem para Goiás?

Sinhô - Ao despedir-me dele na Fazenda Preá, no município de Serrita/PE, pedi para não molestar ninguém da família Pereira. Ele prometeu e cumpriu. Não quis, entretanto, seguir viagem comigo.

Lorena - Depois de instalado em Goiás você convidou Lampião para ir morar naquela região?

Sinhô - Sim. Quintas (meu irmão) foi o portador da carta. Ele respondeu verbalmente, dizendo que não aceitava o convite para não me criar embaraços.

Lorena - Você recebeu o convite de alguém para atacar Antônio da Umburana em Queixada (Mirandiba)?

Sinhô - Não. Tudo aconteceu por minha conta e risco.

Lorena - E o seu problema com Isnero Ignácio, como aconteceu?

Sinhô - Naquele tempo chegou para se agrupar comigo o meu parente Luiz Pereira Nunes (Luiz do Triângulo) acompanhado dos primos Chiquito e Teotônio do Silveira, valente ao extremo. Depois de várias refregas, explicou-me que estavam comigo por que foram escorraçados da sua propriedade na região de Santa Rita pelo primo Isnero Ignácio. Estavam se preparando para desforra e esperava o meu apoio.

Lorena - Qual foi sua reação?

Sinhô - Ponderei que já bastavam as inimizades já existentes e que Sinharinha, mãe de Isnero, era filha de tia Donana, figura considerada sagrada pela minha mãe.

Lorena - E Luiz do Triângulo, como reagiu?

Sinhô - Ficou contrariado, sem aceitar minhas ponderações. Entretanto, concordou que eu fosse com Luiz Padre pedir a interferência de Antonio Inácio de Medeiros também primo de Isnero, Sr. Sebastião Inácio de Oliveira, concordou. Isnero e mãe Sinharinha foram radicais, não aceitaram qualquer forma de reconciliação, inclusive proibiram o parente Luiz do Triângulo de voltar à sua propriedade.

Lorena - E daí, o que aconteceu?

Sinhô - Foi uma estupidez o que fizemos. Ateamos fogo na Fazenda Santa Rita, deixando em cinzas o roçado, o canavial, o engenho, os currais e a casa da fazenda.

Lorena - Dos oficiais da polícia militar que o combateram, qual o de maior respeito?

Sinhô - O capitão José Caetano era um bravo. Intrépido e leal no mais duro da refrega.

Lorena - Qual o combate mais dramático que você participou?

Sinhô - Foi na Serra da Forquilha, numa semana em que estávamos repousando. Éramos doze homens, cercados num casebre, por cento e vinte policiais. Sem outra alternativa bradamos para que segurassem as armas porque iríamos para a luta de corpo-a-corpo e de corpo a punhal.

Lorena - O que aconteceu?

Sinhô - O que aconteceu? Saltamos e fugimos ilesos.

Lorena - Por que a ideia de avisar aos sitiantes, nessa e em outras oportunidades, que continuariam a luta, mas, na verdade, abandonavam o refúgio?

Sinhô - Enquanto aqueles procuravam entrincheirar-se, nós fugíamos.

Lorena - Você viajou para o Planalto Central desprovido de recursos financeiros?

Sinhô - Não. Isidoro Conrado e Né da Carnaúba financiaram a nossa viagem com dinheiro que compraríamos duzentos bois.

Lorena - Em Dianópolis, onde se instalaram, tudo correu bem?

Sinhô - Vivemos uma epopeia mais dramática do que aqui, expressar numa entrevista nem vale a pena...

Lorena - Por que essa expressão! "minhas navegações" quando sabemos que navegar é próprio do oceano?

Sinhô - Ouvíamos dizer que o mar é uma imensidão de água, e como a extensão de nossa desgraça não tinha limites, usávamos a expressão "nossas navegações".

Lorena - É verdade que você anteviu a genialidade de LAMPIÃO?

Sinhô - Dos homens que deixei em armas no Pajeú, só Virgolino podia chegar à celebridade. Os demais eram formiga sem formigueiro. Minha profecia foi cabalmente comprovada. Lampião nada aprendeu comigo. Já nasceu sabendo".

Sinhô Pereira faleceu numa manhã no final do ano 1979, em Lagoa Grande - Estado de Minas Gerais -, deixando para trás uma vida e uma história marcadas de angústia, dores e vontade de viver feliz com sua família e amigos.

"Sinhô Pereira era uma baraúna"!

Créditos da nota de falecimento: Hildebrando Neto "Netinho".
Transcrição da entrevista Ivanildo Silveira.

http://lampiaoaceso.blogspot.com.br/2009/02/entrevista-c-o-ex-cangaceiro-sinho.html

http://josemendespereirapotiguar.blogspot.com.br

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