Por Sálvio Siqueira
Naquele tempo, Poço Redondo – SE, torna-se um ‘poço’ abastecedor das fileiras do cangaço.
Roceiros, vaqueiros, limpadores de mato... enfim, todo jovem que tinha uma profissão ou aprendia uma, debandeia-se para o lado negro e tenebroso do cangaço.
Estar ao lado de Lampião, naquela época, era ter dinheiro, respeito e status para o jovem sertanejo. Não prestava serviço algum a nenhum dos latifundiários, donos de roças de variadas espécies... eram os donos de ‘tudo’, faziam suas leis e estavam com o mito maior das quebradas do sertão. A coisa ficou de uma maneira que vemos em literaturas, que se faziam ‘festa’, forró, em comemoração daqueles jovens que estavam para ingressarem no Cangaço. Triste e inocente ilusão, que levaram a perda de inúmeras vidas naquele, e em outros, rincões.
Uma das coisas que sempre seguiu as trilhas da história do Fenômeno foram à traição, a invenção, a inveja e a mentira. Todas as citadas, infelizmente, levaram a perdas de vidas.
Certa feita, estando alguns rapazes, filhos dos rincões de Poço Redondo, João Preto, Tonho Paulo, João Mulatinho, Augusto, Gumercindo e Du, as vésperas de suas adesões, festeja-se a noite inteira... no outro dia, todos ressacados, três deles são chamados por Zé Sereno e Juriti.
O cangaceiro Zé Sereno
Os três, João Preto, Tonho Paulo e Augusto são incumbidos de realizarem sua primeira missão.Teriam que procurarem um cidadão chamado Zé Joaquim, dizer ao mesmo que fosse na casa do coiteiro chamado Gracinha, que lá estavam esperando por ele para festejarem sua volta. Já que há muito estivera ausente daquele pedaço de chão.
Assim fizeram.
Apesar de o corpo reclamar por descanso, Zé Joaquim se dispõe, no mesmo instante, de acompanhar aqueles rapazes. Todos eram seus conhecidos. Desde sua infância que se conheciam, e achando ser uma afronta não aceitar, partiu com seus ‘amigos’.
Lá chegando, notou logo que de festa nada por se parecia...
Adília encontrava-se presente e ele dirige-se ao seu encontro e vai cumprimentá-la, abraçá-la e, sentando-se ao seu lado, começam a prosear.
Naquele momento se aproxima Juriti e diz que Zé Sereno e Balão estão na cozinha querendo falar com ele. Levanta-se e vai ao encontro dos dois, seguido de perto por Juriti. Sem nem ao menos dar-lhe as boas vindas, Zé Sereno lhe diz diretamente:
O cangaceiro Juriti
“- Cabra, você sabi o qui a gente faz quando argúem anda dizeno aos macacos adonde a gente ta?”(LAMPIÃO ALÉM DA VESÃO – Mentiras e Mistérios de Angico”- COSTA, Alcino Alves. 3ª edição. Pgs 311 a 321. Gráfica e Editora REAL. Cajazeiras – PB,2011).
Naquele instante, Zé Joaquim nota aonde foi se meter. Sabia do que acontecia com aqueles que traiam o cangaço... sabendo não ter muita chance, tenta argumentar na tentativa de defender sua vida, pois, nunca tinha traído ninguém.
“- Num mi façam mal. Eu nunca dissi nada a ninguém. Eu nunca falei nada de vocês.”(Ob. Ct.)
“- Você tem uma língua muito grande – diz Juriti – e nóis vamu cortá-la. Só assim essa genti si imenda. Teje preso cabra. Se aprepare pra morrer.”(Ob. Ct.)
“- Pulo amor de Deus num mi mati. Eu sou inocente. Eu num fiz nada. Gracinha, peça a elis pra deixari eu viver, eu perciso criá meus irmãos. Gracinha, diga a elis qui eu sou inocente.”(Ob. Ct.)
O coiteiro, junto com os outros que tanto o conheciam, se acovardam e lhe dão as costas...
“- Num queremo saber de nada – responde Juriti – Num queremo cunversa. Você tá preso e vai morrer.”(Ob. Ct.)
“(...) O prisioneiro é carregado. Levam-no para os ermos da caatinga. Chega à beira do riacho do Braz. O bando está embriagado. Tem início uma brutal tortura. Aos gritos e deboches os facínoras montam no rapaz e o cortam de esporas como se o mesmo fosse um animal. O sangue do supliciado empapa a ribanceira do riacho. Era pouco. Desejavam mais. Rasgam e furam o seu corpo com as pontas agudas de seus punhais (...)”.
Após se divertirem bastante, sem darem ouvidos para os gritos do jovem, que implorava e dizia pra eles que era inocente, Juriti, saca de seu enorme punhal e o sangra sem piedade. A lâmina dura, fria, dilacera sua carne como se fosse um ferro em brasa. Alguns instantes depois, mais um filho daquela ribeira tinha sua vida ceifada pela brutal guerra cangaceira.
“(...) Os que transportavam numa rede os restos mortais daquele que foi em vida um exemplo de homem, não suportaram a dor de ver aquele corpo, agora frio e rígido, dilacerado pelas marcas da esporas e dos punhais dos brutais inimigos do sertão e do povo(...) Aquela gente sertaneja, caída e sem forças para suportar tanto sofrimeto, olhava vencida e desesperada, a marca roxa do punhal homicida de Juriti, que havia sangrado o pescoço de Zé Joaquim(...)Na tarde daquele mesmo dia, acompanhado pelos parentes e inúmeros amigos, o pobre rapaz foi levado até o pequenino cemitério, onde uma cova rasa o esperava(...)A brutal e injusta morte do filho de Dona Antônia é um marco triste e doloroso na história sofrida de Poço Redondo(...)Era Zé Joaquim um exemplo de homem, de amigo e de filho. A sua medonha morte foi uma das maiores injustiças praticadas durante toda a guerra e campanha cangaceira(...)”. (Ob, Ct.)
Zé Joaquim foi vítima duas vezes. Uma por ter sido envolvido em uma tremenda mentira, surgida por inveja e, a outra, sua triste morte pelo punhal do cangaceiro Juriti.
Fonte/foto Ob. Ct.
Benjamin Abrahão
2ª Fonte: facebook
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